sobre a rabiscadora:

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Estudante de jornalismo na Universidade São Judas Tadeu (USJT). Colunista do "Vá ler um livro" da MTV Brasil. Escritora por paixão, amor e loucura. Portfolio http://www.clicfolio.com/gra.zisantos

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Vivendo de olhos fechados.

Comecei a andar, olhando em volta, em busca de algo familiar... seria amnésia?! não saber quem eu era me levava a crer que sim, mas não tinha certeza de nada. Fui observando tudo ao meu redor, até que funcionou. Aos poucos fui reconhecendo certas pessoas; sabia que as conhecia, embora tivesse a estranha certeza de que elas não sabiam quem eu era.
Adele, por exemplo, estava aguardando o taxista, que lia uma revista de fofocas na banca, em um tubinho preto, com longos cabelos ondulantes. Tinha certo ar de Holly Golightly com óculos escuros. Continuei andando, e virando a esquina deparei com Adelaide sentada à mesa do lado de fora de um bar bebendo cerveja antes do meio dia. Não muito longe dali, avistei Alberta comprando uma caixa de uvas por R$5,00 numa caminhonete-quitanda. Era muito estranho conhecer todas aquelas mulheres e saber, sem motivo aparente, que elas nem me notavam. Mesmo assim, segui minha caminhada.
Então, encontrei Rosali. Ela estava em frente uma casa creme de janelas pistache cheia de flores e arvoredos. Um aroma de macarrão ao molho de tomates com manjericão irresistível vinha da casa; sua avó veio ao portão chamá-la para almoçar, tão bonita e enrugadinha com uma bengala de 4 pezinhos.
Tudo parecia tão conhecido e eu não entendia por quê. De repente, ouvi "Linger" do Cramberries soando de uma janela, no 1º andar de um prédio cinza, onde Evelyn estava debruçada olhando ao longe com ar melancólico. Exatamente no mesmo momento em que a música parou, ela se retirou deixando para trás apenas uma surrada imagem de Santo Antônio. Eis que me reconheci... e acordei. Estava na varanda de casa e o sonho ainda fresco em minha mente. Com nostalgia lembrei de que eu era realmente todas aquelas mulheres! Em cada gesto, afazer ou suspiro. Sou Raphael, um transformista decadente. Moro sozinho num prédio antigo no centro e passo a maior parte do tempo nesta mesma varanda, cercado de velharias: 2 estatuetas de São Jorge, um relógio feito de ferragens, panelas enferrujadas para aparar goteiras, pedaços de manequins descascados, e um triciclo verde que pertencia a meu sobrinho, o qual os pais não deixam visitar-me.
Apesar de minhas muitas musas interiores, sou solitário. Minhas únicas companhias olhavam para mim das paredes: Freddie Mercury, Madonna, Boy George, Toy Dolls, The Darkness e a rainha Priscilla.